sábado, 16 de janeiro de 2016

Assaltos tornam-se parte da rotina de motoristas e cobradores

TRANSPORTE COLETIVO - 15-01-2016 - 20h56min
Assaltos tornam-se parte da rotina de motoristas e cobradores
Pânico, depressão, humilhação. Consequências de uma frase que se repete praticamente todos os dias, quando não mais de uma vez por dia: "perdeu, perdeu motora". Frase esta que vários motoristas e cobradores do transporte coletivo estão ouvindo nos assaltos, que, infelizmente, se tornaram parte da rotina desses trabalhadores. Segundo o delegado Ronaldo Coelho, titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), até o dia 14, foram registrados nove assaltos. Nos 12 meses do ano passado, foram registrados 420.  

Segundo as vítimas, as linhas mais perigosas são a Polivalente, as que passam pela estrada Roberto Socoowski e, agora no verão, a do Cassino. E a cada dia, os assaltos tornam-se mais e mais violentos. Não só por causa das armas, mas também dos atos dos criminosos. Não basta o dinheiro da roleta. Os passageiros começaram a se tornar alvos também. Além disso, atos brutais foram registrados.  
  
Conforme relatos dos profissionais, uma cobradora, agora em licença médica, foi brutalmente atacada durante um assalto, cometido por 10 menores, em um arrastão na linha Cassino/Centro. Não bastasse levar o dinheiro da roleta e objetos particulares, os assaltantes rasgaram a roupa da cobradora, tocando-a em todas as partes do corpo. Uma cena difícil de ser esquecida por quem viu e, principalmente, por quem sentiu na pele o medo e a humilhação. Este foi um dos assaltos mais violentos até hoje.  

Uma outra cobradora também teve sua blusa rasgada e os seios apalpados. Outros dois motoristas foram esfaqueados sem nem ao menos terem tentado reagir. Um deles, motorista de seletivo,  teve um ferimento que resultou em uma sutura de 10 pontos. "Quando vejo um suspeito na parada de ônibus, nem paro mais. Passo direto", frisou outro motorista.  

Nesta reportagem, os entrevistados optaram por não se identificar, por receio de serem reconhecidos  pelos assaltantes, o que já acontece na delegacia de polícia, quando precisam reconhecê-los. "Ficamos isolados dos marginais por um vidro. Só que para chegar até o local do reconhecimento, passamos pela família do assaltante e somos, muitas vezes, ameaçados pelos parentes", informou. Os relatos são de que há motoristas com vítimas de 25 assaltos, outros com 15 e 10.

Delinquentes e menores
O grande problema dos assaltos, hoje, é em relação aos que na maioria os cometem: os menores. "Somos pegos de surpresa. Na hora a gente nem sabe o que faz. Quando fui assaltado, fiquei olhando para o menor, de 16 anos, pensando se reagia ou não. Resolvi que não valia a pena morrer por um celular ou um troco", relatou um motorista, que já sofreu dois assaltos. Ele conta que quando o assaltante entra sem mostrar a arma, tudo corre mais tranquilo. "Mas quando a gente vê um revólver apontado pra nossa cabeça, ou uma faca na mão de quem tá doidão, dá um calafrio. A  gente fica completamente desorientado frente a uma ameaça armada".  

Trabalhar, hoje, em transporte coletivo significa desconfiar de qualquer pessoa. "Se um passageiro entra e tem uma atitude qualquer que levante suspeita, em nossa cabeça, já passa rápido a ideia de que vamos sofrer outro assalto. Isso é terrível. Trabalhar sob pressão é a pior coisa que existe. Já temos a pressão da família, pois saímos de casa sabendo que os familiares estão apavorados, pensando que você vai enfrentar mais criminosos na sua rotina de trabalho. Não é fácil. Mas é preciso não deixar que isso afete você, senão ninguém mais vai trabalhar", salienta outro motorista.  

Segundo ele, a mulher, em casa, fica apavorada, só na espera do marido chegar. "Ela está muito assustada, sempre ligando pra ver se estou bem. Se me atraso um pouco, já bate o pânico. Já pensei em desistir, mas temos família e temos que continuar. Temos que pensar que hoje a violência se instalou em nossa sociedade, e assaltos ocorrem em qualquer lugar, em todas as profissões", alegou.  

Uma cobradora foi "premiada" em seu primeiro dia de trabalho. "Foi tudo muito rápido. Havia três passageiros no ônibus. Quando vi, já tinha acontecido. O pânico bateu no outro dia. Hoje, vivo apavorada. Tenho muito medo porque não sei o que pode acontecer. Estamos à mercê de um tiro, de uma facada por causa de uns trocados. Rezo todos os dias, pedindo proteção quando saio pra trabalhar e agradeço quando volto". Ela ressalta que o medo é por não saber qual será sua reação em um assalto que pode se prolongar um pouco mais. O medo também é de que aconteça com ela o que aconteceu com a colega, que teve as roupas rasgadas e ainda foi abusada pelos assaltantes.  

Com 20 dias de empresa, outra cobradora acumulou dois assaltos. "No primeiro, fui me dar conta do perigo pouco depois, quando congelei. No segundo, entrou um com a mão dentro do bolso do moletom canguru e o outro ficou na porta com uma arma apontada para o motorista. Dessa vez entrei em choque. Só conseguia chorar", lembrou a cobradora. Os dois assaltos aconteceram na linha Polivalente. Além do dinheiro da gaveta, levaram os celulares dos dois profissionais.  

Só por necessidade
O relato de outra cobradora, a seguir, mostra que não só o medo faz parte dos assaltos. A humilhação a que são expostos é outro ponto grave. "Me senti um lixo perante esses delinquentes. Não dá pra esquecer. Não vou esquecer nunca", diz ela, frisando que o assalto foi cometido por um homem armado com uma faca. "Ele entrou no ônibus e anunciou o assalto, apontando a faca para o motorista. Hoje vivo e trabalho com medo, sempre apreensiva. Já pensei em parar, só não o fiz por necessidade. Mas se fizerem comigo o que fizeram com minha colega, talvez, eu nem sente mais atrás de uma roleta".  

A depressão faz parte da vida de uma outra profissional. Ela não foi assaltada. Mas sofre com a pressão diária, pois rende os assaltados. "Nunca fui assaltada. Mas sei o que é o pânico, pois vejo nos rostos dos meus colegas. Estou em depressão por estresse traumático de assalto. Nenhum de nós tem tranquilidade. É um alívio quando chegamos no final da jornada".  

Cofres 
Para um outro motorista, que também já foi assaltado, o importante neste momento é achar uma solução para minimizar o crescimento avassalador dos assaltos. "Uma das medidas para evitar os assaltos a ônibus são os cofres boca de lobo já utilizados  por algumas empresas de transporte coletivo, que não podem ser abertos pelos funcionários. São caixa de ferro ou aço com fechadura ou senha. 

Em ambos, o dinheiro é colocado, mas não pode ser retirado, a não ser na garagem, onde encontra-se a chave. O valor em mãos, do cobrador, para troco, não passaria de 10 vezes o valor da passagem, ou seja R$ 30 (levando-se em consideração que a tarifa, hoje, é de R$ 3), o que já é determinado por lei municipal. Mas, para que uma medida deste âmbito venha acontecer no transporte público de nossa cidade, teríamos que ter uma mobilização do Legislativo", acredita.

              

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